Desaceleração chega ao consumo e varejo tem a pior queda desde 2008
Vendas caíram 0,8% em maio na comparação com abril, desempenho inferior a todas as estimativas do mercado financeiro
O ritmo fraco da atividade econômica e o aumento do endividamento das famílias atingiram em cheio o consumo e o desempenho do comércio varejista em maio. As vendas, que vinham resistindo há meses ao desaquecimento da economia, caíram 0,8% em relação a abril, o maior recuo desde novembro de 2008, período que marcou o auge no impacto da crise internacional sobre a economia brasileira.
O tombo, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi bem maior do que o previsto pelo mercado financeiro e fez as taxas de juros recuarem no mercado futuro, com investidores apostando em um prolongamento do ciclo de cortes na taxa Selic.
"O Banco Central (BC) terá de atuar mais", afirmou do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, para quem a queda no varejo é "um sinal grave, que pode comprimir as expectativas do empresariado". Mesmo a média móvel trimestral, que aponta com mais precisão a tendência, já que reduz a volatilidade da taxa mensal, caiu de 0,3% no trimestre encerrado em abril para zero no trimestre encerrado em maio.
"O governo vem tentando resolver o problema da crise da mesma forma como enfrentou em 2008 e deu certo", afirmou Reinaldo Pereira, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE. "Só que agora tem um ingrediente que não havia antes, o alto nível de endividamento do consumidor. Desta vez, a saída não é consumo, é investimento", avaliou.
Para Pereira, as medidas do governo para estimular o consumo não estão surtindo efeito porque, em época de desaceleração econômica, o humor para o consumo fica comprometido.
No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, o recuo nas vendas foi de 0,7% em maio. Houve alguma recuperação no segmento de veículos, mas as vendas de materiais de construção desabaram 11,3%. Mesmo na comparação com maio de 2011, houve forte desaceleração na construção: o aumento de maio foi de 3,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, após altas fortes em abril (13%) e em março (17%).
"Há muita incerteza, não é o momento de fazer investimento, como uma reforma de casa. Então, pode ser que isso tenha dado uma travada (nas vendas de materiais de construção)", disse o gerente do IBGE. Os materiais de construção vêm sendo beneficiados com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) desde 2008.
A desoneração também não evitou a perda em móveis e eletrodomésticos, beneficiado desde o fim de 2011, cujo volume de vendas caiu 3,1% em maio.
"Desde agosto de 2011, víamos um aumento nas vendas da atividade de móveis e eletrodomésticos, então isso pode estar refletindo uma certa acomodação."
Já a redução de IPI sobre os automóveis ainda não apareceu com força na pesquisa por ter sido anunciada pelo governo apenas em 21 de maio. Mas, como os veículos já ficaram mais baratos no mês, é possível que tenham influenciado a queda nas vendas de eletrodomésticos.
"Os movimentos contrários (as vendas de eletrodomésticos caindo e as de automóveis subindo) sugerem algum grau de substituição entre esses itens na cesta de consumo das famílias", avaliou Mariana Oliveira, analista da Tendências Consultoria.
Apesar do recuo em maio, a situação do comércio varejista é bastante favorável no ano, com crescimento de dois dígitos. Em 2012, as vendas já cresceram 11,9%. Em 12 meses, o aumento acumulado é de 11,4%.