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Pequenas e médias empresas representam metade do pelotão de inadimplentes

De um total de 7 milhões de empresas brasileiras, 3,6 milhões tinham dívidas em atraso no mais recente levantamento, de julho passado. Dessas, 91% são pequenas e médias, com faturamento de até R$ 4 milhões por ano.

As empresas brasileiras, a maioria pequenas e médias (PMEs), enfrentam, neste segundo semestre, período recorde de inadimplência, de acordo com levantamento realizado pela Serasa Experian. 

De um total de 7 milhões de empresas brasileiras, 3,6 milhões tinham dívidas em atraso no mais recente levantamento, de julho passado. Dessas, 91% são pequenas e médias, com faturamento de até R$ 4 milhões por ano.

Outro levantamento, conduzido em abril, desta vez pela Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), já indicava que a perda de fôlego financeiro dos consumidores estava atingindo as PMEs.

Uma em cada dez pequenas e médias empresas consultadas informou ter alta inadimplência, com taxa acima de 10%, considerando os atrasos de pagamento acima de 90 dias. Isto é, de cada R$ 100 que a empresa tinha para receber dos clientes, R$ 10 não entravam no caixa num prazo superior a três meses. O levantamento da Boa Vista SCPC, realizado em várias regiões do Brasil, revelou também que 24% das PMEs registravam uma inadimplência de “baixa a considerável”, de 3% a 10%, enquanto 34% das empresas tinham “baixa inadimplência”, isto é, inferior a 3%.

Uma inadimplência de 10% é considerada bastante elevada, com forte impacto na diminuição do capital de giro das empresas. “Isso faz com que o empresário vá buscar recursos nas instituições financeiras, nas factorings, criando dificuldade para o seu fluxo de caixa no dia a dia”, afirma Juan Perez, diretor executivo comercial da Boa Vista SCPC.

O aumento de custos, como juros e salários, e a queda no consumo complicaram a situação financeira dos empresários, na avaliação da Serasa Experian. Consultores do Sebrae-SP destacam ainda que a falta de planejamento para receber de clientes e pagar os fornecedores pode ser uma causa importante dessa inadimplência histórica, mais até do que as condições macroeconômicas, como a redução de vendas.

Eram 3,28 milhões de empresas inadimplentes em julho de 2013 ante 2,99 milhões no ano anterior. Em dois anos, portanto, o número de empresas com dívidas em atraso cresceu 20%. A pesquisa da Serasa identificou que 50% das dívidas das 7 milhões de empresas eram com fornecedores e credores –geralmente instituições financeiras.

BAR, RESTAURANTE E SALÃO DE BELEZA

O setor de comércio de bebidas, vestuário, veículos e peças e eletrônicos é o mais atingido, representando 47,2% do total de inadimplentes, seguido pelas empresas de serviços (bar, restaurante, salões de beleza, turismo), com 42,6%, e indústrias, com 9,1%.

“As empresas sofreram o impacto da elevação dos juros a partir de março e abril do ano passado. Além disso, salários subindo acima da inflação significam mais custos, sem contar o enfraquecimento da atividade econômica”, afirma Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da Serasa. “Como o desemprego não aumentou, o impacto foi mais forte para as empresas do que para os consumidores.”

A região Sudeste é a que concentra o maior número de empresas inadimplentes, com participação de 51%, seguida de Nordeste (18%), Sul (17%), Centro-Oeste (8%) e Norte (6%). Outro indicador de que a situação das empresas não é de dar inveja é o de solvência, medido pela Boa Vista SCPC. De janeiro a setembro deste ano, os pedidos de falência caíram 0,9%, na comparação com igual período do ano passado. Porém, os pedidos de recuperação judicial (antiga concordata) deram um salto de 10,6%, no período.

Pior, considerando só o mês de setembro, a alta foi de 32,6% e 43%, respectivamente, no caso dos dois indicadores, sinalizando que a situação financeira das empresas está piorando. Vale citar que as PMEs representam mais de 80% dos pedidos de falência e recuperação judicial.

O setor de serviços foi o que apresentou maior número de pedidos de falência, participando com 40% do total, seguido do industrial (37%) e do comércio (23%). No caso dos pedidos de recuperação judicial, lidera a indústria (33%), seguida do comércio (29%) e dos serviços (43%).

“Estes dados refletem o quadro geral da economia. Não podemos esquecer que, muitas vezes, no caso das PMEs, o bolso do lado esquerdo é o da pessoa física, e o bolso do lado direito, da jurídica”, afirma Perez. Isto é, numa situação de aperto financeiro, o consumidor e o pequeno empresário acabam tendo o mesmo comportamento.

As perspectivas, segundo a Serasa Experian, não são otimistas. “A tendência é de os juros continuarem elevados e a economia, estagnada. É um período de dificuldade para as empresas”, diz Rabi. Perez acredita que 2015 será um ano de ajuste na economia brasileira e que a expectativa de ajustes de preços de energia e o problema da falta de água podem pressionar ainda mais a inflação. “Mas não será o apocalipse. Já passamos outras vezes por esta situação, que será superada”, diz.


Infográfico: Odilon Queiroz

COMO SAIR DO SUFOCO

A renegociação de dívidas, para ajustar o fluxo de caixa, é o que as empresas devem fazer em primeiro lugar quando estão inadimplentes, na avaliação de especialistas do Sebrae-SP. Para o credor, é melhor receber em parcelas do que não ver mais a cor do dinheiro. A renegociação dos débitos em atraso, portanto, é bem-vinda para o devedor e para o credor.

A Serasa Experian possui um serviço que possibilita a renegociação on-line de dívidas das empresas. Para isso, é preciso se cadastrar no site e preencher um cadastro.

“Se readequação do caixa não for suficiente neste momento de faturamento menor, é preciso que a empresa faça um programa de corte de despesas. O RH deve ser o último departamento a ser mexido”, afirma João Carlos Natal, consultor financeiro do Sebrae-SP.

Nesse corte de despesas, segundo afirma Natal, é preciso olhar contas de telefone, planos para uso de Internet e aluguel. Muitas vezes, a empresa adquire plano para Internet além do que precisa. Também não presta atenção nos minutos que ultrapassam os limites das linhas de telefone. “Quando o aluguel está muito alto, será que não está na hora de mudar, por exemplo? Às vezes, o imóvel logo da frente é bem mais em conta”, diz.

O planejamento financeiro é essencial, principalmente nesta fase, diz o consultor. “Quanto maior a distância entre o período que a empresa paga o fornecedor e recebe do cliente, maior será a necessidade de dinheiro em caixa. É preciso prestar muita atenção nesses prazos.”

A empresa, inadimplente ou não precisa também criar o hábito de fazer reservas financeiras, por exemplo, para pagar o 13º dos funcionários. A utilização de uma linha de financiamento para pagamento de 13º pode, segundo o consultor, ser melhor opção do que usar o crédito disponível na conta-corrente, com juros de 8% a 9% ao mês.

É importante, durante essa negociação, o empresário verificar se o valor da prestação cabe no fluxo de caixa da empresa, exatamente como o consumidor precisa ver se a prestação da TV cabe no orçamento do mês. “Alguns boletos podem ser pagos com cartão de crédito, o que pode ser uma alternativa se o empresário não entrar na dívida com o cartão.”

O QUE FAZER PARA NÃO VIRAR INADIMPLENTE

Para a empresa que vende a prazo, uma das dicas é ter um bom programa para análise de crédito dos clientes. Ou seja, não adianta vender para quem não paga. “Nossa orientação é: troque o fiado pelo cartão de crédito. E, sempre que for fazer a primeira venda, faça-a por meio do cartão.”

Outra recomendação é trabalhar com estoque adequado à venda. “A empresa tem de ter histórico do que sai e do que precisa comprar e o que gera receita. Se o empresário compra o que não vende, vai faltar dinheiro”, afirma Davi Jerônimo, consultor de administração do Sebrae-SP.

“Diante deste cenário macroeconômico, a gestão de caixa das empresas precisa ser feita de forma mais aprimorada. O lojista tem que prestar bem atenção nas compras, pois, em fase mais difícil de vendas, a indústria tenta empurrar com descontos volumes acima do planejado. O comerciante não pode cair na tentação de comprar só porque está mais barato”, afirma Rabi, da Serasa Experian.

Separar a conta bancária de pessoa física e jurídica é outra providência importante, assim como fazer um planejamento para vendas, aumento de participação de mercado, conquista de novos clientes, lançamento de produtos. Não é porque a empresa é pequena ou média que ela não precisa de plano. “É preciso pensar como empresa grande, mesmo com poucos funcionários.” A falta de planejamento administrativo e financeiro é a principal causa do fechamento de empresas, aponta o Sebrae-SP. 

Em uma pesquisa recente, realizada com quase 2 mil empresas, foi constatado que 46% dos empreendedores iniciaram um negócio sem saber o número e o hábito de consumo dos clientes; 39% desconheciam o capital de giro necessário para abrir o negócio; e 38% não tinham informações sobre os concorrentes.

Outros pontos identificados: 37% desconheciam a melhor localização para sediar a empresa; 33% não tinham informações sobre fornecedores; 32% não conheciam os aspectos legais do negócio; 31% não sabiam o investimento necessário para tocar a empresa; e 18% não levantaram a qualificação necessária da mão de obra.

Para evitar esses equívocos, o Sebrae-SP oferece consultorias nas áreas financeira, jurídica, administrativa, de comércio exterior e de marketing, e  também orienta sobre planos de negócios e internacionalização. O atendimento pode ser feito via telefone e Internet. Neste caso, é montada uma sala virtual, com imagem disponível para o consultor e para o empreendedor. A estrutura do Sebrae-SP, no caso da consultoria virtual, está montada também para o compartilhamento de arquivos.

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